Este é o nosso segundo texto de crítica ao programa apresentado pelo PSTU para debate no Polo Socialista. Veja o primeiro texto aqui. O texto de programa do PSTU pode ser encontrado aqui.
No primeiro texto, tratamos da posição vacilante do PSTU na conjuntura. Agora tratemos dos aspectos programáticos mais gerais. O segundo equívoco do texto programático do PSTU, a nosso ver, é a sua formatação para uma estratégia nacionalista. Ela enquadra e determina os traços socialistas-internacionalistas, que, por isso, secundarizados, ficam na prática suspensos.
Após o comentário político conjuntural, o texto do PSTU entra nos elementos que dão base a um programa (ou seja, propriamente os elementos de estratégia). Não à toa, o primeiro item do texto se chama “O imperialismo impõe a recolonização e a decadência do país”. Já no título do item salta aos olhos a principal preocupação da linha política: o “país”. A frase inicial é justamente a seguinte: “A submissão do país ao imperialismo – aos países ricos que dominam o sistema capitalista mundial – está impondo uma decadência […]” [página 5, negrito nosso].
A preocupação primária da análise do PSTU não é a exploração da classe trabalhadora pela classe capitalista neste Estado-nação (plenamente burguês) chamado Brasil, mas a submissão do “nosso país” aos “países ricos” (o “imperialismo”). Abaixo destacamos em negrito quão claro é o traço nacionalista que perpassa todo o programa do PSTU:
“A dominação imperialista vem dos países dominantes do sistema (donos dos maiores bancos, fundos de investimentos, bancos [sic]), mas está presente hoje, aqui no Brasil, em todos os momentos, determinando a miséria dos trabalhadores, a decadência do país. […] Os grandes fundos financeiros estrangeiros têm um patrimônio no Brasil de 6 trilhões de reais, 80% do PIB do país. Controlam grande parte das grandes industriais [sic], bancos, agronegócio e comércio. […] As multinacionais vendem mercadorias no valor de 58% do PIB brasileiro. Só nos últimos 8 anos enviaram U$ 370 bilhões de dólares para fora, entre lucros e dividendos.” [página 5, negritos nossos].
Para o PSTU, seria melhor que a mais-valia ficasse em “nosso país”: “Esse dinheiro poderia ter sido reinvestido no país revertendo a decadência atual. Isso sem falar nos recursos que são canalizados para fora do país através do ‘pagamento’ da Dívida Pública (interna e externa)” [páginas 5 e 6, negritos nossos].
O problema elementar para o PSTU, como já comentamos, não é propriamente a existência da extração de mais-valia (a exploração capitalista sobre os trabalhadores), mas a sua “evasão” rumo aos “países ricos”.
A ordem dos fatores altera o produto. Começar a análise pela “colonização” e não pela produção de mercadorias é um equívoco político. É como se Marx começasse o livro primeiro de O Capital – o principal programa político que redigiu em vida – pelo ponto final. Em vez de começar pelo capítulo I (“A Mercadoria”), Marx deveria então – na lógica do PSTU – ter começado pelo último capítulo, o XXV (denominado justamente “A teoria moderna da colonização”). Mas Marx não fez isso porque sabia que considerar questões sobre “colonização” antes das relações entre classes levaria a arbitrariedades no conteúdo, ou seja, à deformação política.
O “universal” do qual o PSTU parte sua análise (o “imperialismo”) é uma pseudo-abstração, que, como veremos nos próximos textos, encobre a adesão ao empirismo na luta política e prática do cotidiano.