Balanço do dia 15/05
Os atos foram muito grandes em todo o país. No geral, superaram muito os números divulgados pela mídia (que falou, por exemplo, em 250 mil para São Paulo, quando na realidade havia praticamente o dobro). É o suficiente para mudar os ânimos do conjunto da população trabalhadora brasileira, inclusive daqueles que votaram em Bolsonaro.
No geral, em São Paulo, ao menos, os atos foram muito pacíficos. Por que? Em primeiro lugar, porque a PM não estava presente. Dória – que não é burro como Bolsonaro – tirou o seu da reta. Pensou: vai que a polícia mete bala em alguém, como em junho de 2013, e a massa se volta contra mim? Acaba meu projeto de presidência para 2022!
Mas foi pacífico também porque a direção do ato era pelega. Qual o sentido de terminar um ato de massas na ALESP (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo)? Num bairro totalmente isolado, escuro, sem população. Aliás, um lugar perfeito para a repressão agir. Qual o sentido de pressionar deputados estaduais? Muito melhor seria dirigir a massa para parar grandes vias da cidade, dialogar com o grosso da população, paralisar São Paulo por completo para mostrar a força social do movimento.
O ato era também, digamos, mais “civilizado”, ou seja, composto por um setor social mais educado e instruído, de jovens secundaristas e sobretudo universitários, bem como por uma classe média intelectual que os apoia. Talvez isso explique também o caráter mais pacífico. Não foi como em junho de 2013, nem como nos dois primeiros atos contra a Dilma em 2015, onde havia uma participação propriamente do “povão”, do pessoal dos fundões, das periferias. Isso ainda está para vir, e virá, mas tal setor – que em grande medida votou em Bolsonaro – ainda apoia o movimento dos estudantes de fora, de forma um pouco neutra. Esse setor ainda está migrando do apoio direto ou relativo a Bolsonaro a um apoio direto ou relativo aos que se opõem a Bolsonaro. Quando terminar de migrar, tenderá a derrubar o governo (que já tem crises de sobra em outras áreas e com outros setores).
Mas se o PT hegemonizar a falência de Bolsonaro será um desastre
Viu-se no ato também um apoio grande ao PT, ao Lula. Como explicar esse fenômeno? Como explicar que as bandeiras do PT, que foram escorraçadas das manifestações em junho de 2013 (e com elas, tudo o que era vermelho), agora se erguem novamente?
É como se a memória das massas tivesse sido apagada. Muitos jovens que cresceram boa parte de suas vidas sob governos do PT, que odiavam o PT profundamente em 2013 e 2014, agora começam a virar petistas. Como tudo isso é possível? E mais: é possível que, graças à força da juventude, muitos daqueles que votaram contra o PT em 2018 (e agora estão neutros), votem no PT em caso de nova eleição.
Como é possível isso? Como é possível que esse pesadelo retorne? A única explicação é a crise de direção, a covardia da esquerda. Isso ocorre porque não houve alternativa de massas e de esquerda ao PT desde 2015. Todos os partidos ditos de esquerda capitularam (a maioria do PSOL apoiou o PT abertamente, enquanto o PSTU lavou as mãos, ficou em cima do muro, e terminou por apoiar vergonhosamente o PT no segundo-turno eleitoral).
Graças à ausência de uma organização de esquerda de verdade no país, com apoio social, desde 2015, o movimento contra o PT foi capitalizado pela direita estúpida (o que culminou na eleição de Bolsonaro). Mas era óbvio que isso duraria pouco, pois tais setores não têm projeto histórico e iriam virar um PT ao avesso (o que se prova agora com Bolsonaro). Não houve quem de esquerda marcasse posição radical contra o PT, e, ao mesmo tempo, alertasse a população que a direita não era opção, que a votação em Bolsonaro era uma falsa superação do PT. Não se criou um processo/movimento social que negasse o PT e se preparasse para negar Bolsonaro. Dado que a saída ao problema-Bolsonaro não foi um projeto pelo futuro, para frente, agora, quando o governo deste vai à falência, voltamos ao passado, voltamos ao PT!
Eis a dimensão histórica das traições e vacilações da “esquerda” desde 2015. Estupidamente, ela não só se condenou entre 2015-2018 e afundou com o PT, como condenou seu futuro nos próximos anos. Sem combater o PT, ela não só ajudou a entregar o poder a Bolsonaro, como agora, quando este vai à falência, ela ajuda direta ou indiretamente a reviver o PT! Os atos neste dia 15 mostraram um grande potencial político e social, mas também mostraram um grande risco de serem apoderados socialmente pelos velhos bandidos, oportunistas e charlatões do PT.
É o momento histórico de algo novo surgir
Bolsonaro está estabelecendo todas as condições para se criar o contrário do que diz combater. Ele fala tão mal de comunismo, e o resultado são centenas de milhares de jovens nas ruas, fazendo piadas sobre comunismo, usando camisetas sobre comunismo, querendo se informar e entender mais do que se trata. As condições para a reconstrução de uma esquerda radical começam a ressurgir em nosso país. É o momento de crescimento das organizações políticas da esquerda radical. Mas isso não pode ser feito sem se colocar de forma muito clara uma cuia de separação dos revolucionários nos atos em relação ao PT. Se não se esclarecer o veneno que o PT significa para o movimento social, nada novo surgirá. Sem se esclarecer as massas que sua memória está sendo apagada pela narrativa petista, nada de novo crescerá. A força social, institucional e de senso-comum (reformista) do PT é muito maior do que a força do revolucionários. Se não se agir de forma incisiva agora, com uma unificação dos revolucionários, uma geração que desperta para a luta será perdida, condenada à concepção do reformismo pequeno-burguês, que na realidade só serve ao grande capital.
Os revolucionários devem fazer uma frente anti-petista nos atos. Só um bloco assim pode ser admitido. É claro que a primeira tarefa é derrubar os cortes, derrubar Weintraub, derrubar a reforma da previdência e derrubar Bolsonaro. Para esta primeira tarefa, todos têm de ser admitidos (inclusive os petistas) na luta geral. Mas os revolucionários têm de criar, nos atos, um bloco que, além de ser contra os cortes e a reforma, seja também contra o PT, pública e claramente contra o PT. Um bloco que combate a influência nefasta do PT sobre os movimentos de massa.
Bater juntos, marchar separados. Todos contra Bolsonaro e suas medidas, mas marchando separados dos petistas (alertando que tais ataques são originalmente proposta da Dilma, bem como esclarecendo que os petistas, no primeiro momento, tentarão trair o movimento, encontrando todas as vias para conduzir a luta pelo caminho das novas eleições, para garantir seu retorno ao poder).
O PT quer que Bolsonaro caia junto com Mourão, para Rodrigo Maia ser obrigado a chamar novas eleições. O PT aposta no recall eleitoral de Fernando Haddad. Nós não podemos deixar o PT voltar e se moralizar, pois isso é um desastre histórico e social de grandes proporções para esquerda de verdade. A questão agora é para frente, não para trás. O PT já faliu. Bolsonaro está falindo. Que o novo seja criado com a queda dos dois! O problema do país não é de chamar novas eleições, mas de construir o poder da maioria, nos locais de trabalho, estudo e moradia, que seja a ponte para uma nova civilização, superando toda miséria e barbárie atuais.