É compreensível que parte da população brasileira esteja revoltada com Lula. Pensamos até que a maioria da classe trabalhadora (sobretudo seus setores mais esclarecidos), mesmo que de forma passiva, é contra o ex-presidente. Nas ruas das grandes cidades pôde-se ouvir até um “que pena que não acertaram de verdade”.
Do outro lado, a burguesia ficou assustada. Tão logo souberam da notícia, todos os grandes políticos burgueses vieram a público defender Lula: Temer afirmou que era absurdo, inadmissível, que era necessário apurar e pacificar o país. Jungmann colocou as forças de elite federais à disposição da investigação. Alckmin, depois de afirmação apressada contra Lula, retratou-se. Rodrigo Maia repudiou e defendeu apuração. Eunício Oliveira tratou como ato inaceitável. Todos os grandes representantes da burguesia temem que essa moda pegue e políticos burgueses sejam mais perseguidos pelo país afora. É por essas e outras que são contra o porte de armas pela população.
Deve-se, obviamente, apurar o que se passou. Se se tratar de grupos para-militares ou fascistas, devem ser responsabilizados e desmantelados de forma exemplar, com severa repressão, baseada em ação popular e nas leis atuais. Mas não se deve ignorar que o Brasil, devido à sua estrutura econômica particular e formação social, tem pouca base objetiva para o fascismo. A tendência principal é que se trate de uma expressão deformada e absolutamente inconsequente da revolta popular (trabalhadora ou pequeno-burguesa) contra os nefastos burgueses que Lula e os seus representam.
É preciso esclarecer a tais setores populares revoltados e inconsequentes que esse tipo de ação, hoje, é de uma burrice sem par. Atacar a caravana do ex-presidente com tiros somente favorece o próprio ex-presidente; facilita que se vitimize e una em torno a si os setores políticos burgueses descontentes. Às vésperas de um julgamento de habeas corpus de Lula no Supremo, criar um compadecimento social a seu favor é dar um tiro no pé.
Mas além de mero erro “tático”, é preciso esclarecer a tais setores que um atentado isolado e individual é algo errado por natureza. Quem quer realmente mudar o atual estado de miséria, opressão e roubo, deve ser contra atentados e ações individuais.
Há um longo registro na literatura dos lutadores a esse respeito, desde a polêmica sobre os atentados contra os czares russos ao final do século XIX. Na medida em que tais ações não mudam o sistema de opressão e miséria em que vivemos, elas somente fortalecem os carrascos, servem para legitimar os regimes e justificar perseguições e repressões contra setores populares. Disso muito se valeu, por exemplo, a ditadura militar brasileira, que usou facilmente a guerrilha pequeno-burguesa para se justificar (inclusive, militares envolveram-se em atentados contrários à própria ditadura, visando a dar mais base ao regime policialesco falido).
Os marxistas acreditam apenas na ação conjunta e organizada das massas, na luta em defesa das suas condições de vida. Para defender suas condições de vida, as massas trabalhadores devem se valer de todos os meios à sua disposição e ir às últimas consequências contra este sistema. A ação individual de um pistoleiro no meio do mato não tem nada a ver com isso e não resolve nada.
Chamamos os revoltados contra Lula a protestar de forma política consequente e organizada. É preciso construir uma alternativa da classe trabalhadora nessa revolta legítima contra o ex-presidente, uma alternativa que não compactue com os discursos doentios de figuras estúpidas como Jair Bolsonaro, MBL etc.. Por mais que finjam ser radicais, tais elementos doentios são feitos da farinha do mesmo saco que Lula, Temer, Dilma, Aécio e outros canalhas, parasitas da grande política. Isso em pouco tempo será provado.
A cada dia que a esquerda se nega a fazer um chamado como este aos revoltados, ela fortalece a extrema direita. Esta se nutre do ódio popular legítimo ao atual sistema político e econômico. Dado que a “esquerda” não sai de baixo das asas do PT, a direita estúpida nada de braçadas nesse ódio e cresce. A direita nunca teve tanta facilidade para avançar no Brasil como nesta conjuntura em que alguns falam corajosamente que “combatem” o fascismo, mas não saem de baixo das asas do PT. Como já ocorreu em outros momentos históricos, os que mais gritam assustados contra o fascismo são os que mais facilmente capitulam a ele.
Reforçamos o chamado à esquerda para participação no ato contra o habeas corpus de Lula no dia 03/04. É preciso ter coragem para se desgarrar do PT e combater conscientemente aquele que amanhã, se eleito, agirá para implantar um governo populista-autoritário para acabar com a instabilidade social que se arrasta desde 2013.
Às ruas em 03/04, contra o habeas corpus de Lula. Formar um bloco da esquerda, independente, pela prisão do cabeça da quadrilha política nacional! Construir uma verdadeira alternativa da classe trabalhadora para a revolta social!