Desde a campanha eleitoral de 2018, quando Jair Bolsonaro derrotou Fernando Haddad, ganhou força entre as diversas organizações de esquerda do país a opinião de que a “democracia havia dado lugar ao fascismo”, ou de que “a ditadura militar de 1964 retornava”. Na imprensa e até mesmo na academia, não é difícil ouvir falar de uma “escalada autoritária e golpista” do atual presidente e da sua corja miliciana. Diante do quadro de corrupção desenfreada, de descaso com as mortes pela COVID-19 e de silenciosos ataques aos trabalhadores brasileiros, inúmeros revolucionários honestos se levantaram para combater o bolsonarismo sob a bandeira “antifascista”.
Um mistério ronda a chamada “esquerda socialista” (PSTU, PCB e UP). Como votarão em um eventual segundo turno eleitoral? A polarização eleitoral Lula-Bolsonaro é a questão central desta eleição e está “na boca povo” desde o final do ano passado. Diante disso, esses partidos precisam adotar uma posição pública a respeito, se pretendem ter qualquer intervenção de maior impacto com suas campanhas.
A “onda bolsonarista” se mostrou uma marolinha. Nada se confirmou da “tendência fascista”. A “onda bolsonarista” durou dois anos, menos que a “onda” do oportunismo petista. Esta foi mais profunda e teve um caráter mais nefasto para a luta da classe trabalhadora do que as patetadas bolsonaristas.
A discussão sobre o fascismo voltou à ordem do dia. Pensamos, entretanto, que há muita confusão na caracterização do fenômeno, feita conscientemente por oportunistas que buscam confundir lutadores. Mas, como diz a citação de Trotsky, um erro na caracterização do inimigo pode ter desdobramentos práticos muito sérios. Justamente por conta da necessidade de demarcar posição em relação a esses oportunistas é que faremos nossa modesta contribuição com essa série de conteúdo.
O vídeo ministerial revelou um governo desesperado. Hoje, certamente, o desespero é maior, pois comprovou-se o crime de Bolsonaro (agora abertamente acobertado no delito por Generais). Para alguns, caminhamos para um “golpe” fascista ou bonapartista. Será?
Na série a seguir, olharemos para o sujeito histórico antagônico, o nosso inimigo: a burguesia e as suas diferentes formas de expressão política. Para conter de modo mais violento a luta da classe trabalhadora, a burguesia desenvolveu, ao longo da história, novas formas de dominação política. Falaremos especificamente do fenômeno do bonapartismo.
Qual o significado do voto das massas em Bolsonaro? As massas são mesmo fascistas? Os trabalhadores são mesmo racistas, homofóbicos etc? O que é fascismo e o que é bonapartismo?
Atacar a caravana do ex-presidente com tiros somente favorece o próprio ex-presidente; facilita que se vitimize e una em torno a si os setores políticos burgueses descontentes. Às vésperas de um julgamento de habeas corpus de Lula no Supremo, criar um compadecimento social a seu favor é dar um tiro no pé.
Afinal, o que é ser de esquerda? O PT nunca foi de esquerda, mas de centro (e hoje é de direita). E o PSOL, seria esse partido realmente de esquerda? Na verdade, não. Boulos também não é. É preciso superar a forma confusa como a burguesia usa esses conceitos!
Os grampos do telefone pessoal de Lula, divulgados nesta quarta-feira, dia 16/03, revelam que esse senhor não tem apreço algum pela democracia burguesa. Lula não é um democrata-burguês; atacou praticamente todas as instituições democráticas da burguesia: o STF, a Câmara, o Senado, a Procuradoria-Geral da República, o novo Ministro da Justiça, etc. Todos são “frouxos”, “acuados”, com medo da “República de Curitiba”. Para Lula seria preciso um homem de coragem — ele próprio — para enfrentar o descalabro.