O Brasil vive uma crise política e institucional sem paralelo na história recente. Os poderes batem cabeça como não se via há décadas, numa guerra quase declarada. Os congressistas, destruindo o pacote contra corrupção do MPF, rindo de toda a nação, tangenciam o ponto de ruptura das instituições. Renan Calheiros cairá, não sem antes abalar as frágeis instituições.
Nesta situação, não cabe ficar sentado, parado, olhando, menos ainda defendendo o indefensável petismo. A esquerda revolucionária precisa criar um bloco próprio nos atos contra a corrupção. Não é preciso defender as 10 medidas contra corrupção do MPF (e é possível e necessário criticar alguns elementos reacionários contidos nessas medidas. Veja aqui). Mas a questão é a seguinte: depois de tanto atacar só o Temer, agora, quando os “coxinhas” começam a se revoltar contra ele, a esquerda ficará com frescuras e não se unirá a eles contra Temer?
Na verdade, é possível e necessário intervir tanto nos atos contra a corrupção quando nos atos contra a PEC com a mesma linha política: atacar o PT, atacar Lula, atacar a corrupção e atacar as medidas nefastas de Temer, que destroem a educação, a saúde, a previdência e as condições de trabalho. Não há porque ter linhas diferentes, e é possível unir esses dois movimentos numa coisa só, contra o governo burguês de plantão e seus aliados (do PT, PSDB, PMDB, PP, etc.).
Se a “esquerda” vai em atos chamados por grupos burgueses de direita, como o PT, contra a PEC, porque não tem coragem de ir em atos chamados por grupos pequeno-burgueses de direita, como o MBL? É preciso saber fazer frente em cada momento, e é preciso saber pensar além das dicotomias estreitas e e superar as limitações dos dois setores burgueses em disputa.
Movimentos como o MBL não participam de atos como os da PEC, porque estão comprometidos com as posições burguesas de Temer. O PT não participa dos atos contra a corrupção pois é o principal partido tentando garantir a anistia ao caixa dois. A esquerda revolucionária não precisa cair em nenhuma dessas duas lógicas de frações burguesas em disputa: ela pode se aproveitar das divisões da burguesia e avançar; ela pode demonstrar, ao longo de um processo, que tem razão e que as suas posições são as únicas corretas; ela pode fazer as duas frações burguesas se desmoralizarem diante das massas.
Não nos esqueçamos: quando Bolsonaro quis votar a PEC, sua base ficou revoltada, porque a PEC retira dinheiro da saúde e da educação. Quando o movimento “Vem pra Rua” disse que o ato em Brasília desta semana (que terminou com conflitos com a polícia) havia sido um ato “baderneiro”, a maioria dos seus seguidores o criticou, e falou que era preciso mesmo usar luta direta contra o governo e contra os deputados, como fez a juventude. Quando a direita não lutou contra a PEC e o governo, até uma figura deplorável como Alexandre Frota falou que a direita era “frouxa” e deixava na mão da esquerda a luta contra o governo.
A verdade é que a direita é frouxa e a esquerda também. A esquerda revolucionária pode demonstrar, para as massas, num processo de luta, que a direita é realmente frouxa e tem rabos presos, bem como pode demonstrar, para a juventude ocupante e a classe trabalhadora sindicalmente organizada, que a esquerda que gira em torno do PT é frouxa e capitula aos seus interesses burgueses.
Não há combate ideal: na luta de classes é preciso sujar as mãos e pensar num processo. É preciso formar um bloco e ir pra rua neste domingo, com setores médios da classe trabalhadora e com a pequena-burguesia, dizendo para os trabalhadores só confiarem em suas próprias forças; que em última instância nenhuma instituição capitalista (MPF ou judiciário) é confiável, menos ainda as não eleitas, e que elas não resolverão o problema da corrupção, que é da essência do Estado capitalista. E é preciso ir nos atos contra a PEC, atacando tal medida e alertando os participantes que o PT só quer usar os atos para salvar a candidatura de Lula para 2018.
Não ir nos atos da “direita”, contra a corrupção, é facilitar para esse setor enganar as massas. Tirar esses atos das mãos da direita é questão central nesta conjuntura. Não ir no ato contra a PEC é facilitar para o PT enganar as massas. É preciso construir, na luta, nas ruas, o caminho dialético que supera ao mesmo tempo todo o binarismo colocado na conjuntura brasileira.
É hora de derrubar Renan Calheiros, derrubar Eliseu Padilha, Moreira Franco e todos os que já estão sabidamente envolvidos em corrupção. Paralisar o governo Temer, derrubando seus homens fortes, significa impedir a aplicação da PEC. A luta é uma só. É hora de criar, na luta, o poder da maioria, para colocar abaixo o governo de Temer.
Às ruas! Às ruas! Às ruas!