Como todos sabem, Lula fez campanha eleitoral no ato do dia 15/03, na Av. Paulista. O fato de Lula ter falado coroa os erros da esquerda revolucionária na atual conjuntura. É verdade que ele discursou pouco (oito minutos) pois temia reações, mas é verdade também que as vaias no ato – dos grupos MNN, TL, CST-PSOL, MES-PSOL e PCB – mal tiveram repercussão. Nem mesmo apareceram na mídia. Entre Lula e as vaias havia a muralha da burocracia interessada em voltar ao governo burguês. A correlação de forças foi péssima para a esquerda revolucionária no ato (mas não nos locais de trabalho, que demarcaram a verdadeira importância do dia 15).
A péssima correlação de forças no ato é resultado dos erros da esquerda revolucionária diante dos movimentos populares dos últimos dois anos (e que são apenas um desdobramento de junho de 2013). A esquerda não disputou corretamente as massas populares revoltadas com o bando corrupto do PT e cia.; vacilou, tergiversou ou capitulou. Era preciso ter disputado de forma unificada, com estrutura, as massas, para hegemonizá-las no exato momento em que a direita traísse abertamente. Hoje, quando grupos de direita como MBL e VPR se desmoralizam completamente (sobretudo ao apoiar a reforma da previdência), a esquerda revolucionária triunfaria; mobilizaria ao mesmo tempo contra a corrupção e contra a reforma da previdência. A existência (num ato como o do dia 15) de uma pequena parcela desse setor popular faria Lula pensar mil vezes mais antes de pisar na Av. Paulista. A fala de Lula é a derrota da esquerda.
É verdade que não dá pra impedir Lula de falar, uma vez que diz que é contra a reforma da previdência. É preciso demonstrar na prática que é um mentiroso. O primeiro passo é aumentar a nossa voz para que sejamos ouvidos: montar um bloco contrário à politicagem de Lula; um bloco que se articule, no mínimo, para vaiar Lula.
Pode-se fazer Frente Única com o diabo contra a reforma da previdência, mas não se deve esquecer que Frente Única pressupõe liberdade de crítica – e a vaia é a forma mais elementar de crítica! É preciso anunciar de antemão que Lula será vaiado, e inclusive divulgar isso à grande imprensa. É preciso fazer materiais, cartazes e panfletos denunciando a tentativa de sequestro do ato pela campanha de Lula. Tudo isso pode ser preparado conjuntamente. O que ocorreu no dia 15 não pode se repetir!
Se a esquerda revolucionária não se unificar para, no mínimo, vaiar os oportunistas, não estará fazendo o mais elementar e facilitará para Lula e seus burocratas vendidos.
Cinco centrais sindicais anunciaram que não iriam ao ato se Lula fosse fazer politicagem (Força Sindical, USB, UGT, CGTB e Nova Central). Elas representam amplos setores do proletariado, que se mobilizaram no dia 15 nos mais importantes locais de trabalho. Mesmo sabendo disso, Lula, o PT e seu bando preferiram fazer politicagem. Isso comprova que PT, PCdoB, MST, MTST e outros (Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo) estão mais preocupados com a a candidatura de Lula para 2018 do que com a unidade dos trabalhadores e a luta contra a reforma da previdência.
O que está em jogo na necessária articulação da esquerda para combater os oportunistas não é a luta do bem contra o mal, mas o futuro do movimento autônomo da própria classe trabalhadora. Para piorar, esse movimento é a condição de existência da esquerda revolucionária. Portanto, também está em jogo a existência futura da esquerda revolucionária no Brasil.
A destruição do movimento autônomo dos trabalhadores (que apenas começa a nascer) em nome do lulismo, é uma das piores tragédias que pode ocorrer ao proletariado brasileiro no próximo período histórico.