As relações ilegais publicadas entre Moro e Dallagnol inviabilizam a idoneidade da condenação de Lula na primeira instância. Acusadores e juízes não podem tramar conjuntamente numa democracia (mesmo numa democracia burguesa). Se Lula for solto pela iniciativa de Gilmar Mendes, um dos maiores responsáveis agora será o próprio Moro (bem como Dallagnol). Moro deveria, no mínimo, sair do governo. E deve também, assim como Lula, pagar por seu crime.
A Intercept foi correta em publicar as conversas, mas foi errada em tratar o caso do triplex apenas com base na peça de acusação do Ministério Público. Assim, ela agiu para fortalecer a falsa narrativa petista de que não há provas. Na verdade, se olharmos a sentença de Moro (portanto, além da peça de acusação do MPF), é evidente que há provas de sobra, sobretudo com base em mensagens de celular e troca de emails entre altos funcionários da OAS e membros da família de Lula, todos referentes a reformas no triplex.
O fato da sentença ser dada por Moro – que agora está no mínimo em suspeição – não condena as provas e a sentença final, uma vez que houve condenação na segunda e terceira instâncias. Os revolucionários devem lutar para que essas condenações na segunda e terceira instâncias sejam agora reformadas e se mantenham, não apenas porque Lula deve pagar por seus crimes, mas também porque sua prisão é fundamental para manter paralisada a dominação burguesa no Brasil.
Os revolucionários não devem ser colocados numa posição de optar entre Moro e Lula. Para além de lógicas binárias, é possível defender que Moro pague por seu crime, com o cancelamento de sua sentença e outros desdobramentos jurídicos contra si, bem como é possível que Lula pague por seus crimes de corrupção com os maiores setores da burguesia nacional.
Os revolucionários não devem, portanto, fazer política abstrata e pequeno-burguesa, dizendo que os trabalhadores não têm de se posicionar ante a prisão de Lula (e dizendo, pelo contrário, que têm de se posicionar ante a ação ilegal de Moro!). Agindo assim, quem se dá bem é somente Lula e os seus – Temer, Cunha, Aécio, Renan, Gilmar Mendes, o centrão, os grandes empresários das “campeões nacionais”, que tendem a ficar soltos com Lula.
A política da classe trabalhadora tem de ser pela prisão de Lula e seus aliados, sem titubear. Mas essa política está também além dos justiceiros pequeno-burgueses da Lava-Jato, que, evidentemente, por atuar dentro do Estado burguês, cedo ou tarde mostram seus limites de classe. Em última instância, somente as forças da classe trabalhadora podem resolver todas as mazelas burguesas que assolam este país, entre elas a corrupção e a violência estatal.
A possível saída de Moro enfraqueceria o governo de Bolsonaro e a tramitação da reforma da previdência. Este governo se mostra a cada dia mais um tigre de papel, com seu principal ministro ruindo repentinamente. O todo poderoso Moro era, na verdade, também frágil (parecia forte, mas dentro de uma casa toda frágil e roída por dentro). Bastou um pequeno vento ou um peteleco, e o todo-poderoso foi defenestrado. Tanto melhor: que se afundem os charlatões da burguesia e da pequena-burguesia. Isso só não pode, de forma alguma, levar à ascensão de Lula e do PT, nesfastos para o controle da classe trabalhadora no Brasil.
Fora Moro! Lula na prisão!
Dia 14, todos às ruas e às fábricas na paralisação geral contra a reforma da previdência de Bolsonaro, Lula e consortes!