Infelizmente, o alarmismo e a histeria criados pelos petistas a respeito de um risco iminente de “fascismo” ou, no mínimo, autoritarismo, levaram à capitulação política das principais forças da esquerda brasileira ao PT. Veja-se, por exemplo, inesperado posicionamento dos companheiros da CST-PSOL e PSTU a favor de Haddad. Até ontem os companheiros falavam que, apesar da complexidade da situação, não havia risco de fascismo no Brasil e não se passava uma “onda conservadora”. Hoje se impressionam com a pressão histérica da esquerda pequeno-burguesa e recobrem tal posição com frases esquerdistas sobre greve geral e conselhos populares.
O discurso criado pelos petistas é uma continuidade da narrativa do “golpe”, que hoje se prova totalmente falsa (veja-se, inclusive, apoio de Temer a Haddad no segundo-turno). Em pouco tempo também a ideia de fascismo iminente, do autoritarismo iminente ou da onda conservadora, se esfumaçará. Há mais estrada do que os companheiros estão vendo, antes de se chegar à situação desenhada pelos petistas e sua histeria política.
A ideia de que Bolsonaro começará imediatamente um governo autoritário é um exagero criado pelos petistas para obter apoio político. Para além das características pessoais de Bolsonaro, muito pouco, por ora, ele poderá realizar de modificações profundas nas instituições brasileiras. Ele será moldado pelas instituições mais do que as moldará, um pouco como Trump nos Estados Unidos. Lembremos: Trump também chegou de fora do status quo partidário; foi construído a partir da estrutura política do direitista Tea Party, mas quando chegou ao poder, por dentro do Partido Republicano, adaptou-se, como era de se esperar, às regras institucionais, às regras do jogo do sistema político, pois, evidentemente, não havia e não há estrutura social e política para que isso fosse mudado rapidamente. Hoje Trump governa rodeado de escândalos e com uma oposição social cada vez maior.
Bolsonaro tem apoio explícito de membros das Forças Armadas, sobretudo da reserva. Isso não significa que os petistas não tenham. O petista Jacques Wagner, ex-Ministro da Defesa, que tem ótimo trânsito entre os militares, esteve em SP no começo desta semana explicitamente para isso: costurar laços com o alto comando do exército, no caso de uma eventual vitória de Haddad.
Tanto Bolsonaro quanto Haddad, se eleitos, iniciarão um governo democrático-burguês, dentro das regras do jogo do sistema político atual e das instituições, e terão apoio de militares, como todo governo. Não apenas porque essa é a função institucional atual dos militares, mas porque é assim que melhor se garante, hoje, a ordem capitalista, para lucro dos capitalistas. Nem os militares querem uma instabilidade institucional repentina.
Independentemente do dito acima, a ordem capitalista atual necessita transitar do regime democrático-burguês para um regime autoritário, de viés bonapartista. Tanto Bolsonaro quanto Haddad atuarão nesse sentido. Bolsonaro, apoiando-se explicitamente mais em seus parceiros militares de reserva e na pequena-burguesia em processo de decomposição (semi-lumpem), histérica. Haddad, apoiando-se em Lula, no controle sindical gangsterista, na massa miserável que depende do Estado, e na pequena-burguesia de “esquerda”, também em processo de decomposição (semi-lumpem), histérica.
Para além do apoio dos militares (que ambos necessariamente terão, para manter a ordem, enquanto governo), um próximo governo autoritário necessita também de mecanismos de controle social. Nesse quesito o PT está um pouco à frente de Bolsonaro, o que não deve ser desprezado. Ainda assim, é evidentemente difícil saber desde já qual dos dois seria mais competente para estabelecer um governo propriamente autoritário no médio e longo prazos.
A única coisa que dá para saber é que é errado capitular à histeria petista, às fake-news petistas, ao clima de irracionalidade e delírio que leva a massa pequeno-burguesa e intelectual a votar como rebanho desesperado. Ela verá à frente apenas o abate.
Para se construir um partido revolucionário, é necessário saber não se impressionar facilmente. A posição de apoio a Haddad apenas atrasa (mais um vez, graças ao PT!) a construção de uma organização revolucionária no Brasil. Primeiro, porque mostra que os partidos não estão preparados para olhar a realidade de frente, com a frieza que ela exige. Tais partidos deixam-se levar pelos setores pequeno-burgueses e suas pautas identitárias (como na onda do #elenao). Segundo, porque apoiando Haddad se desligam ainda mais da massa proletária, que já provou neste primeiro turno que quer enterrar do PT o quanto antes. A única posição aceitável para se construir um partido proletário e dialogar com esse setor social fundamental é o voto nulo. A outra posição é a capitulação à pequena-burguesia e o afastamento do proletariado.
A esquerda teme ficar isolada. É preciso responder à seguinte questão: isolada de quem? Da própria “esquerda” petista e intelectual, pequeno-burguesa? Ou isolada das massas proletárias? A esquerda está na encruzilhada e sua construção futura depende da resposta correta a essa questão.