O texto abaixo é de autoria dos companheiros da organização argentina Razón y Revolución. Temos concordância com a análise e seus desdobramentos práticos.
Por Eduardo Sartelli, de Razón y Revolución, Argentina
A Venezuela não está vivendo uma tragédia. Não é o capricho dos deuses do Olimpo que coloca a escolher entre o imperialismo e a mais decomposta das burguesias latino-americanas. O chavismo é o responsável. Uma ditadura que assassina trabalhadores, esfomeia seu povo e mancha tudo o que toca. Teve tudo em suas mãos e perdeu tudo. É uma espada (burguesa) sem cabeça. O chavismo é uma fraude política, e o que sofre o povo venezuelano é culpa sua. O chavismo arruinou o que não podia ser arruinado. A única esperança que resta é que caia em meio a uma insurreição que instaure um verdadeiro regime de massas mobilizadas e armadas. Produzir-se-á em breve um impasse, em que o imperialismo e a burguesia opositora tentarão ocupar o vazio rapidamente. A proclamação de Guaidó busca adiantar-se aos fatos, evitando os desdobramentos do que a própria oposição mais teme — a queda do regime por uma mobilização popular incontrolada. As reuniões entre Guaidó e Diosdado Cabello — confessadas publicamente — são parte da negociação, não para salvar a “paz” (como disse o último), mas para evitar a insurreição das massas. Ambos sabem que esta saída cria condições de autonomia popular imediata, lideranças surgidas na luta de rua, organismos que aparecem espontaneamente para reorganizar a vida e canalizar as necessidades mais elementares.
A esquerda, em geral, fala hipocritamente de um Golpe de Estado, como se não houvesse massas na rua, em rebelião, inclusive massas claramente chavistas. Ela tenta lavar as mãos, pois está mais preocupada em não ser acusada de “pró-imperialista” do que com as tarefas necessárias que a classe trabalhadora venezuelana já leva adiante. Ela fala de Maduro como presidente “legítimo” e “mal-menor”, mas esquece-se de que o principal apoio deste não são as massas venezuelanas, e sim os imperialismos chinês e russo — dos quais, aliás, não fala nada, e cujo roubo de recursos econômicos venezuelanos ela não comenta. A Venezuela se tornou um enclave colonial, mas parece haver imperialismos “bons” e colônias “soberanas”. Uma desculpa comum entre os revolucionários é o temor a uma invasão militar ianque ou (mais provável) brasileira. Nem Bolsonaro nem Trump intervirão antes que Maduro caia. Neste momento, apostarão que a oposição controle a situação. Apenas no caso de estabelecimento de um governo de tipo revolucionário intervirão militarmente. A ideia de uma invasão militar é um artifício chavista para forçar todos a alinhar-se com ele, anulando qualquer possível direção revolucionária ante a crise.
Boa parte da esquerda carece de coragem para falar a verdade: há de se destruir o chavismo e esse é o ponto de partida para qualquer estratégia revolucionária. É absurda a ideia de que só caberia estimular a queda de Maduro se o imperialismo não desempenhasse qualquer papel na crise. A questão é o aqui e o agora neste cenário. Neste contexto, a reivindicação é a organização de assembleias populares nos locais de trabalho e nos bairros, a rápida formação de uma Assembleia Nacional de trabalhadores empregados e desempregados, o armamento da população, a formação de guardas de defesas das assembleias, a propaganda para quebrar as forças armadas e o controle dos pontos nevrálgicos da vida social (fábricas, bancos, cadeias de comércio, centros de distribuição de alimentos e remédios, meios de comunicação, abastecimento de energia etc.). O imperialismo buscará encerrar a crise rapidamente. Se uma Assembleia Nacional de trabalhadores não se erguer como instância de duplo poder, já sabemos como terminará a questão. Alinhar-se com Maduro apenas prolongará a crise e a derrota ante o imperialismo ianque.
Abaixo Maduro, ao poder a classe operária venezuelana!