Hoje ocorrerá às 17h, no Theatro Municipal de São Paulo, uma manifestação que visa não apenas celebrar em abstrato a memória de junho de 2013, mas fazer da retomada das ruas a ferramenta para resgatar esse legado (leia aqui nosso balanço de 10 anos das jornadas de junho).
Saudamos essa iniciativa dos companheiros, muitos dos quais ex-militantes do MPL. Com outras organizações, a Transição Socialista (TS) assinou a convocatória do ato (leia aqui).
Fomos chamados para essa articulação, que visava reunir grupos de um campo não governista (em relação ao governo Lula) para a retomada dos atos de rua. Ao menos foi desta maneira com a qual fomos convocados, porém um espectro mais amplo de organizações assinou a nota após ela ser redigida.
Prestamos nosso apoio e solidariedade ao ato, mas assinalamos desde já os limites de sua pauta, da mesma maneira que sempre fraternalmente apontamos em 2013.
O ato é chamado contra a tarifa dos transportes, dado que a tarifa zero passa a ser defendida por governos burgueses e pautará as eleições municipais. A pauta visaria pressionar o governo do estado para também ampliar esse debate ao metrô. Em última instância o que era a pauta histórica do MPL pode ser clara e ironicamente sequestrado por políticos considerados por tais movimentos como conservadores.
Isso decorre do fato que sempre apontamos: o passe livre é uma demanda que facilmente pode ser atendida pelo Estado, sem deixar de onerar a classe trabalhadora.
No ápice dos protestos de 2013, Haddad e Alckmin admitiram que a revogação dos 20 centavos seria paga por todos nós em outros serviços sociais; também no calor das manifestações, políticos como Renan Calheiros saíram em defesa do passe livre, ou da cessão de qualquer anel disponível para apaziguar a convulsão social estabelecida.
Se o que as empresas de transporte querem é garantir seus lucros, nem que seja pelo garantido e confortável subsídio estatal do passe livre, porque deveríamos erguer uma luta que não as confronte? Quando se fala que magicamente o Estado irá subsidiar: devemos ler: os trabalhadores seguirão pagando a conta.
Por esse motivo, nossa posição no momento é botar o dedo na ferida.
Quem sangra para pagar o transporte é quem sangra com o aumento do custo de vida em geral, a luta não pode se limitar aos transportes.
Que sangra com a inflação viu seus empregos na berlinda com a reforma trabalhista, com a terceirização irrestrita e com a reforma da previdência. Todas essas medidas não estão sendo revogadas pelo governo Lula e isso não pode deixar de estar na pauta dos protestos. Nossa pressão para uma articulação política desse tipo, veio nesse sentido na convocatória deste ato.
Se nos limitarmos a essa pauta dos transportes, poderemos ser alvo fácil da cooptação por interesses eleitoreiros, seja dos atuais prefeitos, seja das oposições.
Em São Paulo, ao PT interessa muito que se erga uma pauta reformista e histórica e que tenha o seu DNA. Talvez daí se explique a nova e inusitada posição de Dilma Rousseff “elogiando” junho de 2013, após 10 anos.
Em paralelo à versão canalha e hegemônica de seu partido de que protestos de 2013 foram o ovo da serpente do fascismo; agora surge a ardilosa versão soft power de que eram progressistas as manifestações contra a ordem estabelecida. Elas teriam esbarrado num congresso que impediu a reforma política e uma constituinte.
A recente experiência da constituinte chilena nos dá muitas pistas de para que servem esses artifícios de contenção da revolta por meio de seu confinamento institucional.
O recente texto de Dilma parece dar a letra sobre como o PT já espera que as ruas se aqueçam contra o seu governo; querem estar preparados para lidar de outra forma para empacotar a insatisfação popular que em breve surgirá.
É preciso fazer unidade contra o governo burguês de plantão! Sem dar trégua ou facilitar suas estratégias de desmobilização!
Saudamos a disposição de luta dos que querem lutar. Da nossa parte, as ruas não servirão para requentar velhas ilusões!
Por 2013, por 2023!
Lute pelo futuro!
Lute com a Transição Socialista!