Alguns destaques da luta internacional, na edição de O Corneta que circulou entre julho e agosto nas fábricas da grande São Paulo.
China: greve de caminhoneiros!
Caminhoneiros ao redor da China protestaram pelo país e cruzaram os braços pelo final de semana do dia 9 de junho. “Nós não aguentamos mais, nós não temos escolha a não ser levantarmos juntos!”, disse uma mensagem circulada amplamente nas redes sociais. O movimento reclama que as taxas de transporte estão muito baixas para serem sustentáveis e que os custos dos combustíveis estão crescendo numa velocidade muito alta nos últimos anos. Desde o dia 8 de junho, os protestos de caminhoneiros foram detectados em no mínimo doze localidades ao redor da China. Os motoristas de caminhões, a maioria deles autônomos, argumentam que eles tem uma margem de lucro muito pequena devido aos custos dos combustíveis e o baixo valor do frete que recebem. “Nós não vamos morrer de fome se não trabalharmos alguns dias, mas certamente não iremos sobreviver com essa taxa ridiculamente pequena que nos pagam”, disse outra mensagem divulgada na internet.
Nicarágua: povo toma as ruas e exige a derrubada do governo
Em abril, os trabalhadores pararam Manágua, capital do país, quando o governo tentou aprovar uma reforma da previdência para cortar aposentadorias e aumentar a contribuição. Os protestos foram tomando corpo e se transformaram numa luta conjunta de diferentes categorias contra o presidente. Desde então, mais de 150 pessoas já foram assassinadas e mais de 1.300 feridas pelo governo, que reprime as manifestações com o exército e grupos armados clandestinos, num verdadeiro massacre. Assim como na Venezuela, um setor oportunista que dizia lutar pelo povo enriqueceu e se tornou dono de importantes empresas nas últimas décadas. Agora, com medo da revolta popular, eles reprimem e matam os trabalhadores. Mas a luta segue viva: em 14/6, nova paralisação geral unificada foi realizada para exigir a saída do governo Ortega, que controla o país desde 2007 calando os opositores e demais poderes do país. Conforme a repressão avança, também surgem grupos mais organizados de trabalhadores e jovens que defendem os protestos com fortes barricadas e bloqueios. Os trabalhadores de Masaya já declararam independência do regime e defendem as entradas da cidade contra a repressão. Viva a luta dos trabalhadores da Nicarágua! Fora Ortega!
Índia: trabalhadoras de creches rurais protestam por salário
Centenas de trabalhadores de creches rurais protestaram de 28 de maio até 31 de maio em Mohali, na Índia. Eles exigiam salários iguais aos dos professores estaduais. O ato aconteceu em resposta à nova medida do governo que determinava que crianças acima de três anos deveriam ser encaminhadas para o pré-primário e saírem das creches. Os trabalhadores das creches, na sua maioria mulheres, dizem que o estado e os governos da Índia falharam repetidamente ao providenciar equipamentos adequados às creches e escolas públicas e que a última medida do governo tende a piorar a situação. Eles dizem que trabalham a mesma quantidade dos professores dos primários, com responsabilidades similares, só que ganham menos.
Índia: operários têxteis protestam
Mais de 400 mil trabalhadores da empresa Karnataka protestam pelo pagamento imediato do aumento salarial previamente combinado. No começo de fevereiro, o Congresso prometeu um aumento mínimo nos salários dos operários de indústrias de tecido na Índia. Os deputados disseram que os operários receberiam cerca de 6 dólares por dia, dobrando o salário atual de 3 dólares. O projeto de lei para esses aumentos, entretanto, foi retirado pelo Departamento de Trabalho no final de Março, após os patrões das indústrias de tecido terem objetado. A indústria de tecidos emprega cerca de 450 mil pessoas no estado. O setor não ganha nenhum aumento salarial desde 2014.
Bangladesh: mineradores voltam a trabalhar depois de 1 mês de greve
Cerca de mil trabalhadores da Barapukuria Mineradora de Carvão voltaram a trabalhar em 2 de junho depois de um mês em greve. Eles reivindicavam o pagamento de nove meses de salários e outras 12 reivindicações. Os mineradores entraram em greve no dia 13 de maio e bloquearam a entrada do escritório de administração da empresa. Sete trabalhadores ficaram feridos quando a polícia atacou o piquete na primeira semana de greve. A greve teve amplo apoio de moradores de cerca de 20 vilarejos ao redor da mineradora, que protestaram junto aos trabalhadores.
As reivindicações dos mineradores incluíam segurança de emprego aos terceirizados, turnos de 6 horas para trabalhadores “subterrâneos”, reabilitação das famílias cujas casas foram danificadas por conta de operações da mineradora e compensação aos trabalhadores feridos. A greve se encerrou no dia 2 de junho, após as negociações com a empresa e o Ministério de Energia e Recursos minerais.
Bangladesh: operários têxteis protestam contra patrões
Mais de 250 trabalhadores da empresa Ashiana, na cidade de Dhaka, bloquearam a principal avenida entre Malibagh e Badda, no dia 31 de maio. Os operários exigiam o pagamento de salários atrasados e a permissão para a celebração do Ramadan (ritual do islamismo). Os trabalhadores alegavam que a empresa não paga os salários há três meses e nem deu qualquer indicação sobre a permissão ao Ramadan.
A empresa, que foi atingida por um incêndio em Abril desse ano, tinha prometido pagar os salários atrasados no dia 31 de maio, mas quando os operários chegaram na planta, as portas estavam fechadas.
O protesto se encerrou apenas quando o departamento de trabalho de Bangladesh, assim como a Associação de Indústrias de Tecido de Bangladesh, asseguraram os trabalhadores que a fábrica iria pagá-los até o dia 2 de junho. De acordo com o site oficial da empresa, a Ashiana Garments tem uma rotatividade de 9 milhões de dólares por ano.
Sri Lanka: trabalhadores da rede de fornecimento de água entram em greve
Mais de 12 mil trabalhadores da fornecedora nacional de água no Sri Lanka estão em greve desde o dia 4 de junho. Eles exigem o pagamento de incrementos salariais trienais que estão pendentes. Tirando o processo de purificação da água, todos os reparos de demolição, novas instalações de abastecimento, leitura de medidores e trabalho de escritório chegaram a um impasse. Se as reivindicações dos grevistas não forem atendidas, os trabalhadores da purificação e bombeamento de água também irão aderir à greve.
Grécia: trabalhadores protestam contra o governo
Trabalhadores gregos fizeram uma paralisação nacional no final do mês de maio para protestar contra a nova onda de medidas de austeridade que vai entrar em ação depois do terceiro resgate internacional do país expirar neste meio do ano. Alguns voos foram cancelados, navios não conseguiram sair dos portos e o transporte público parou por um dia. A ação nacional foi organizada pelos maiores sindicatos de trabalhadores da Grécia. Desde a crise de 2009, a Grécia recebeu 260 bilhões de euros em empréstimos de “resgate” em troca de implementar medidas de austeridade como demissão de servidores públicos, aumento de impostos e cortes de pensões.
Argentina: pressão popular para direito ao aborto livre e seguro
A pressão da população trabalhadora levou a Câmara dos deputados da Argentina a aprovar o direito das mulheres ao aborto seguro e livre, que ainda deve tramitar no Senado. A votação foi apertada (129 a 125), e em grande medida resultado de pressão popular, expressa na presença de milhares de pessoas cercando o Congresso em protesto durante a aprovação da medida. É uma conquista democrática que demonstra o nível de crise em que está o governo, que teme qualquer mobilização popular contra ele.