Depois de um longo período de ataque aos trabalhadores, e apesar da resistência das greves e dos protestos do chão de fábrica, os patrões da Bardella tiveram uma conquista: uma força de trabalho cerca de 35% mais barata.
Essa proeza capitalista foi possível graças à terceirização de grande parte do que é produzido na planta de Sorocaba. Atividades principais da empresa foram transferidas para um empregador intermediário e, dessa forma, o trabalho antes realizado por um valor de R$ 15/hora (piso) passou a ser feito por apenas R$ 10/hora. Ou seja, R$ 5/hora a mais estão sendo apropriados pelo patrão.
O rebaixamento salarial já vinha sendo aplicado ilegalmente, por meio do calote sobre os salários e outros direitos – desde o início do ano, os trabalhadores da planta de Guarulhos só recebem o adiantamento (40%), ficando 60% do salário não-pago. Com a mudança na legislação trabalhista liberando a terceirização de atividades-fim, a Bardella consegue praticamente o mesmo, apropria-se de mais trabalho não pago, só que agora legalmente, sem o risco de sofrer ações judiciais.
Uma empresa criada pelo trabalho não pago aos operários
A empresa que está sendo o instrumento da Bardella foi aberta este ano por dois dos seus ex-funcionários. Eles estavam há meses sem receber salário, assim como o restante dos empregados, mas o que circula na rádio peão é que os dois fecharam com o patrão um tipo de acordo em que receberam meios de produção – máquinas de solda, lixadeira, ferramentas etc. Com esses meios à mão, abriram a empresa e contrataram os próprios ex-colegas.
Segundo um relato enviado ao Corneta,“a Bardella mandou eles contratarem o pessoal que já tinha trabalhado no equipamento, e quem já havia trabalhado no equipamento eram os que tinham acabado de sair da Bardella e que estavam sem receber…”
“Aí eles contrataram caldeireiros e soldadores… Eles pegaram algumas comportas pra soldar, depois pegaram 40 rotores da Wobben e agora parece que pegaram um serviço hidromecânico para uma hidrelétrica da África”.
A produção terceirizada se dá dentro da própria planta da Bardella de Sorocaba. “É aquela situação crítica, porque a Bardella pagava a terceirizada e não pagava o pessoal dela. Fizeram um setor, colocaram uns tapumes lá, dividiram o pessoal terceirizado do pessoal da Bardella. Alguns até ficaram bravos, questionaram por que estavam aceitando, se a Bardella já enganou, ia enganar de novo. Mas quem tava na terceirizada aceitou porque tava necessitado de trabalho.”
O desemprego sobre os ombros dos trabalhadores
Para quem estava há muitos meses sem nenhum meio de sustentar sua família, a baixa remuneração tornou-se um mal menor. Mas a empresa terceirizada está servindo aos trabalhadores como um mero paliativo: não absorveu toda a mão de obra demitida da Bardella – os funcionários não chegam nem a 40 no total – e suas contratações são temporárias, de acordo com o tempo de produção de cada encomenda. Soldadores e caldeireiros relataram terem sido contratados por 30 dias, outros por 45.
Enquanto parte dos recém-demitidos da Bardella consegue um trabalho temporário e com salário menor, outra parte permanece no desemprego. Isso porque a Bardella não é a única, segue uma tendência geral dos capitalistas em lançar à rua um exército reserva de trabalhadores, para amanhã tê-los disponíveis sujeitando-se a qualquer “mal menor”.
Nos últimos três anos, foram pelo menos 600 trabalhadores demitidos das unidades da Bardella, engordando a massa de desempregados que chegou a 27,7 milhões em maio de 2018. Apesar de ausente dos locais de trabalho, esse número é um meio fundamental para a exploração, pois pressiona os que continuam empregados a aceitarem a piora das condições. Dessa forma, a indústria dos patrões segue seu curso, intercalado por períodos de vitalidade média, períodos de produção a todo vapor, de crise e estagnação, absorvendo parte do exército industrial de reserva e mantendo uma outra grande parte, preparando-se para um período mais enérgico de exploração.