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Companheiros ferroviários, fizemos uma importante mobilização neste ano para exigir o justo reajuste dos nossos salários e benefícios e o mínimo de condições para desempenharmos nossas funções. Mesmo com as dificuldades, nos mobilizamos pela base, pressionamos nas assembleias, participamos massivamente das greves e ajudamos a mobilizar nossos colegas. Nossa luta assustou o governo, e o secretário Baldy, apesar da cara de mau na televisão, se viu obrigado a ir cedendo pouco a pouco. Foi um movimento histórico para nossa categoria, e devemos refletir e fazer balanço para poder dar os próximos passos na nossa organização.
vacina
Perdemos dezenas de colegas e amigos queridos que tiveram complicações de covid, tudo por causa da negligência e desprezo da direção da empresa e do governo pela nossa saúde. Para eles, não somos nada além de força de trabalho. Fomos obrigados a colocar em risco nossas vidas e de nossas famílias para manter o transporte funcionando, mesmo aqueles que eram grupo de risco ou moravam com familiares que eram grupo de risco. No ápice do contágio, continuamos passando por milhares de passageiros todo dia, mexendo com dinheiro, enquanto víamos todo dia um colega novo ser internado. E nem a vacina, que já existia, o governo providenciou pra gente! Apenas com a nossa pressão, em cima da empresa e dos sindicatos (que não queriam lutar por vacina, mas só pela PPR), foi que fomos incluídos no grupo prioritário de verdade
act e reajuste salarial
Também foi a nossa própria mobilização que forçou a empresa a negociar nosso ACT. Estávamos na condição absurda de dois anos sem reajuste, e sem ACT das cláusulas econômicas do ano passado até agora! Todo trabalhador sente na pele que os preços dos insumos básicos aumentaram tremendamente nesses dois anos. Se antes sobrava alguma coisinha no fim do mês pra guardar, hoje para muito ferroviário está difícil fechar as contas no fim do mês. Se antes conseguíamos fazer compras de melhor qualidade no mercado, agora a cada mês o carrinho fica menor. Se não tivéssemos nos mobilizado, se não tivéssemos feito greve, tenham certeza que o governo teria mantido o arrocho no nosso salário sem o menor peso na consciência.
apesar dos sindicatos…
Infelizmente, nossa categoria foi colocada em uma situação de grande desorganização. Nos últimos anos a empresa fez tudo que quis com a gente, porque viu que nós não conseguíamos reagir. Nossos sindicatos, verdade seja dita, não servem pra quase nada quando o assunto é defender a categoria. Muitas vezes fazem o contrário, atuam pra atender os interesses do patrão. A concessão das linhas 8 e 9, que foi feita tranquilamente sem a menor oposição real dos três sindicatos, é a maior prova disso. Nossos dirigentes só estão pensando nos próprios interesses privados, para eles estar na diretoria do sindicato é um projeto pessoal de carreira, não uma forma de organizar a categoria e ajudar a fortalecer nossa luta.
…greves pela base!
Mas a categoria mostrou que quer lutar e está se organizando para isso. Nas duas greves que fizemos nos últimos dois meses – a primeira nas linhas 7, 8, 9 e 10, a segunda nas linhas 11, 12 e 13 – a mobilização da base foi fundamental, na verdade foi o que possibilitou de fato a greve. Os sindicatos estavam mais preocupados em trucar o governo com uma ameaça, de olho no PPR e na contribuição confederativa, por isso não fizeram quase nada para mobilizar a categoria nas estações, escalas e oficinas. Foram os próprios trabalhadores que se organizaram, correram o trecho, conversaram com os colegas e garantiram a paralisação.
Devemos levar essa lição: apenas nos mobilizando nós mesmos, nos nossos locais de trabalho, com nossos colegas do dia a dia, podemos alcançar nossos objetivos e resistir aos ataques da direção da empresa contra nós. Entender isso é mais importante que nunca hoje, quando estamos sendo mais explorados a cada mês e quando todos os nossos empregos estão ameaçados com os projetos de concessão de toda a malha ferroviária. Não adianta apostar nossas esperanças no candidato x ou y no governo, pensando que algum político vai colocar nossas necessidades acima de seus próprios interesses políticos. Também não adianta pagar uma mensalidade pro sindicato e esperar que a diretoria vá lutar em nosso lugar. Só nós, trabalhadores, lutando nós mesmos, unidos, temos força para impor nossos interesses contra a direção da empresa.
retomar os sindicatos
É necessário, também, nos planejarmos para retomar nossos sindicatos. Os sindicatos são instrumentos de organização da categoria, conquistados historicamente pela classe trabalhadora. Eles devem servir aos interesses do conjunto da categoria, e atuar para mobilizá-la. Nossos três sindicatos, entretanto, foram usurpados por um grupo privado que não está lá para mobilizar a categoria, mas apenas para construir suas próprias carreiras e viver na mamata do imposto sindical. Essa é a situação da maioria dos sindicatos do Brasil hoje. É preciso que a classe trabalhadora brasileira retome seus sindicatos, e é preciso que os ferroviários retomem os seus próprios.
Devemos valorizar nossos colegas que construíram esta mobilização, que fizeram reuniões, que criaram o Comitê de Luta contra a Privatização da CPTM, que se articularam nas assembleias, que fizeram comando de greve, que foram até mesmo demitidos como forma de “dar o exemplo” para categoria! Estes são nossos verdadeiros dirigentes, os que estão preocupados com os interesses coletivos da categoria e colocam nossa luta em primeiro lugar. Nas próximas eleições sindicais, devemos organizar estes companheiros em chapas de oposição, para disputar com os velhos burocratas. Precisamos retomar nossos sindicatos e colocá-los a serviço da nossa categoria de verdade!
A conjuntura é dura, companheiros. Continuaremos sofrendo ataques de todos os lados, da direção da empresa, do governo estadual, do governo federal, do congresso com suas reformas. Mas nós trabalhadores, organizados, somos mais fortes que eles.
Avante na luta, companheiros! Defender nosso poder de compra e cada emprego na ferrovia!
Retomar nossos sindicatos que foram usurpados!
Viva a mobilização dos ferroviários da CPTM!