Transição Socialista

1968: A GREVE GERAL E A REVOLTA ESTUDANTIL NA FRANÇA

Publicamos a parte 1 do texto “1968: A greve geral e a revolta estudantil na França”, de Peter Schwarz, um relato detalhado dos eventos de maio de 1968 na França e do contexto histórico que os precipitaram: sob o pano de fundo de um agravamento das tensões de classe em todo o mundo, os protestos estudantis que estouraram no começo do maio na França rapidamente deram lugar a ocupações de fábricas e à maior crise revolucionária em décadas no coração do capitalismo europeu. Como o agravamento da crise econômica em escala mundial, bem como o estouro levantes da classe trabalhadora contra o aprofundamento da miséria, relembrar as lições de maio de 1968 é fundamental para o desenvolvimento revolucionário das lutas do presente.


Parte 1: Desenvolve-se uma situação revolucionária

É provável que não haja um evento histórico que tenha chamado tanto a atenção do público quanto o aniversário dos levantes de 1968. Nas últimas semanas, centenas de artigos, entrevistas, documentários e filmes foram lançados sobre os protestos estudantis e sobre as lutas operárias que ocorreram naquele ano. Certamente, na Alemanha, o aniversário teve mais cobertura do que qualquer outro a que se compare.

Como se explica este interesse pelos eventos de 1968?

A resposta tem menos a ver com o passado do que com o presente e o futuro. O ano de 1968 não foi caracterizado apenas por meras “revoltas estudantis” que balançaram os EUA, Alemanha, França, Itália, Japão, México e muitos outros países. Ele foi o prelúdio da maior ofensiva da classe trabalhadora internacional desde o fim da Segunda Guerra. Esta ofensiva durou sete anos, assumindo em diversas ocasiões formas revolucionárias, forçando a renúncia de governos, trazendo abaixo ditaduras e abalando o sistema de dominação burguesa em suas bases.

Isto foi mais visível na França, onde em maio de 1968 dez milhões de trabalhadores tomaram parte em uma greve geral, ocuparam fábricas e levaram o governo do General Charles de Gaulle a ficar de joelhos. Em 1969, as chamadas greves de setembro aconteceram na Alemanha, e a Itália sofreu um “outono quente” de confrontos industriais. Os EUA presenciaram imensas passeatas do movimento de direitos humanos contra a guerra e rebeliões em guetos urbanos. Na Polônia e Tchecoslováquia – a Primavera de Praga – trabalhadores se revoltaram contra a ditadura stalinista. Nos anos 70, ditaduras de direita foram derrubadas na Grécia, Espanha, e Portugal. Durante o mesmo período, o exército americano sofreu uma derrota humilhante no Vietnã.

O pano de fundo destes eventos era a primeira crise profunda da economia capitalista desde a Segunda Guerra. Em 1966 uma recessão abalou a economia mundial. Em 1971, o governo americano quebrou o lastro existente entre o dólar e o ouro, despindo, assim, a base do sistema monetário inaugurado em Bretton Woods em 1944, que havia estabelecido os moldes para o boom do pós-guerra. Em 1973, a economia mundial afundou-se ainda mais na recessão.

A onda de protestos, greves e revoltas internacionais deixou sua marca. Em uma série de países os salários e as condições de trabalho melhoraram, muitas vezes em níveis consideráveis. O movimento de 68 também deixou rastros na esfera cultural e na vida social como um todo. Varreu a atmosfera sufocante e claustrofóbica dos anos 50 e 60, trazendo melhorias importantes nos direitos das mulheres e das minorias. Universidades foram expandidas e se abriram a camadas mais amplas da sociedade. Porém, o domínio capitalista e as relações de propriedade mantiveram-se intactas. A burguesia foi forçada a fazer concessões políticas e sociais, mas manteve-se no poder.

No final da década de 70 começou a contraofensiva. Margaret Thatcher chegou ao poder na Grã-bretanha, Ronald Reagan nos EUA e Helmut Kohl na Alemanha. Concessões sociais foram revertidas e os ataques à classe trabalhadora intensificaram-se.

Hoje as nuvens negras estão no horizonte novamente e o abismo social é mais fundo do que nunca. Milhões estão desempregados ou trabalham em subempregos. No Leste europeu e na Ásia um imenso exército de trabalhadores está sendo explorado com salários miseráveis. A recente crise financeira demonstra que um colapso do sistema bancário internacional é cada vez mais provável. As tensões entre as grandes potências são crescentes e as guerras imperialistas, como a do Iraque, estão mais uma vez na agenda internacional. O resultado inevitável será o de novos conflitos e lutas de classe.

Este é o principal motivo do atual interesse nos eventos de 1968. Eles podem se repetir sob uma forma diferente. Enquanto a classe dominante tenta se preparar para isso, os trabalhadores e a juventude também devem se preparar tirando as lições da experiência de 1968.

Esta série de artigos concentra-se nos eventos da França. Nela, a luta de classes irrompeu à superfície de forma explosiva em maio e desbancou por completo a tese da Nova Esquerda, de que a classe trabalhadora havia sido integrada com sucesso ao capitalismo através do consumo e da mídia. O que em janeiro parecia ser uma disputa relativamente inofensiva entre estudantes e governo transformou-se, dentro de poucas semanas, em uma situação revolucionária. O país estava paralisado, o governo impotente e os sindicatos haviam perdido o controle da situação. Ao final de maio, a classe trabalhadora não só estava na posição de forçar a renúncia do governo liderado pelo presidente de Gaulle, como também de derrubar o sistema capitalista e estabelecer seu próprio poder. Isto teria mudado fundamentalmente o curso dos eventos políticos ao redor da Europa, tanto no leste quanto no oeste.

Tal desenvolvimento foi barrado pelo Partido Comunista Francês (PCF) e sua central sindical aliada, a CGT (Confédération Générale du Travail), que se recusou estritamente a tomar o poder e usou de toda sua influência para estrangular o movimento de massas. O Partido Comunista recebeu um apoio adicional do Secretariado Unificado (SU) pablista liderado por Ernest Mandel e suas sucursais francesas (o Partido Comunista Internationalista, PCI, liderado por Pierre Frank e a Juventude Comunista Revolucionária, JCR, liderada por Alain Krivine). Por 15 anos os pablistas haviam atacado sistematicamente as tradições marxistas do movimento trotskista. Agora eles desorientavam e enganavam os estudantes que buscavam uma alternativa ao stalinismo ao fazer apologia a Che Guevara e ao ativismo de tipo anarquista como modelos de atuação.

A primeira parte desta série trata do desenvolvimento da revolta estudantil e da greve geral até seu ponto alto no final de maio. A segunda parte examina a maneira com a qual o Partido Comunista e a CGT ajudaram o General Charles de Gaulle a retomar o controle da situação. A terceira parte lidará com o papel dos pablistas e a quarta tratará da Organização Comunista Internacionalista (OCI), liderada por Pierre Lambert. A OCI, na época ainda seção oficial francesa do Comitê Internacional da Quarta Internacional, adotou uma posição centrista em 1968 e logo depois acabou seguindo atrás do Partido Socialista.

A França antes de 1968

A França nos anos 60 é caracterizada por uma profunda contradição. O regime político é autoritário e extremamente reacionário. Sua personificação é o General de Gaulle, que parece vir de outra era e representar inteiramente em sua pessoa a Quinta República. De Gaulle tem 68 anos de idade quando eleito presidente em 1958 e 78 quando renuncia em 1969. No entanto, sob o regime fossilizado do velho general, uma rápida modernização econômica está acontecendo, alterando fundamentalmente a composição social da sociedade francesa.

No final da Segunda Guerra, grandes regiões da França sustentam-se na agricultura, com 37% da população tirando seu sustento da terra. Nos 20 anos que se seguiram, dois terços dos fazendeiros franceses deixaram suas terras e mudaram-se para as cidades, onde – juntamente com trabalhadores imigrantes – adicionaram às fileiras da classe trabalhadora uma camada social jovem e politizada, difícil de ser controlada pela burocracia sindical.

Após o fim da Guerra da Argélia, em 1962, a economia francesa cresce rapidamente. A perda de suas colônias força a burguesia francesa a orientar sua economia mais fortemente em direção à Europa. Em 1957, a França já havia assinado o Tratado de Roma, documento fundador da Comunidade Econômica Europeia, antecessora da União Europeia. A integração econômica da Europa favorece a construção de novos ramos da indústria, que compensam o declínio das minas de carvão e de outras velhas indústrias além do esperado. Na área de automóveis, aeronaves, tecnologia espacial, armamentos e energia nuclear, com o apoio do governo abrem-se novas fábricas e companhias. Elas são normalmente localizadas fora dos centros industriais tradicionais e mais adiante estarão entre as fortalezas da greve geral de 1968.

A cidade de Caen na Normandia é exemplar neste sentido. O número de habitantes cresce entre 1954 e 1968 de 90.000 a 150.000, dos quais metade tem menos de 30 anos de idade. Saviem, uma parceira da automotiva Renault, emprega em torno de 3.000 trabalhadores. Eles decretam greve em janeiro, quatro meses antes da greve geral, ocupando a fábrica temporariamente e engajando-se em uma acirrada batalha com a polícia.

Nota-se uma radicalização também dentro dos sindicatos. A antiga central sindical católica, a CFTC (Confederação Francesa de Trabalhadores Cristãos), racha e a maioria dos membros se reorganiza em uma base laica na CFDT (Confederação Francesa Democrática do Trabalho), que reconhece a “luta de classes” e, no início de 1966, aceita agir em unidade com a CGT.

O estabelecimento de novas indústrias traz consigo um crescimento exaltado no setor educacional. Novos engenheiros, técnicos e trabalhadores especializados são requisitados com urgência. Somente entre 1962 e 1968, o número de estudantes dobra. As universidades estão lotadas, mal equipadas e, como as fábricas, controladas por uma administração patriarcal de valores antiquados.

A oposição às más condições de educação e ao autoritário regime universitário – dentre outras coisas, a proibição a moradores da residência estudantil de visitar residências do sexo oposto – é um fator importante na radicalização dos estudantes, que logo ligam tais questões a questões políticas. Em maio de 1966 ocorre a primeira manifestação contrária à guerra no Vietnã. Um ano depois, em 2 de junho de 1967, o estudante Benno Ohnesorg é morto a tiro pela polícia de Berlim, e os protestos estudantis alemães ecoam na França.

No mesmo ano os efeitos da recessão mundial são sentidos e têm um impacto de radicalização sobre os trabalhadores. Por anos, os níveis de vida e as condições de trabalho têm estado abaixo do ritmo do desenvolvimento econômico. Salários estão baixos, as horas de trabalho longas e dentro das fábricas os trabalhadores não possuem direitos. Agora o desemprego e a carga de trabalho são crescentes. As indústrias mineradoras, do aço e têxteis estão se estagnando.

A liderança dos sindicatos organiza protestos burocratizados, de cima para baixo, para não perderem o controle. Mas os protestos locais são construídos pela base e brutalmente reprimidos pela polícia. Em fevereiro de 1967, os trabalhadores da manufatura têxtil Rhodiacéta na cidade de Besançon são os primeiros a ocuparem sua fábrica, protestando contra demissões e exigindo melhores condições de trabalho.

Produtores rurais também protestam contra a queda em seus rendimentos. Em 1967 vários protestos rurais no oeste da França se transformam em batalhas nas ruas. De acordo com um relatório policial da época, os fazendeiros são “numerosos, agressivos, organizados e armados com vários projéteis: pregos, paralelepípedos, estilhaços metálicos, garrafas e pedregulhos.”

No início de 1968, a França parece relativamente calma em sua superfície, mas abaixo dela as tensões sociais estão fermentando. O país inteiro aparenta um barril de pólvora. Tudo que é necessário para causar uma explosão é uma faísca repentina. Esta faísca foram os protestos estudantis.

Revolta estudantil e greve geral

A Universidade de Nanterre está entre os colégios que foram abertos nos anos 60. Construída sobre terreno que antes pertencia às forças armadas há apenas cinco quilômetros de Paris, ela foi aberta em 1964. Ela é cercada por vizinhanças pobres, chamadas “bidonvilles”, e fábricas. Em 8 de janeiro de 1968, os estudantes em protesto confrontam o ministro da juventude François Missoffe, que está na região para inaugurar uma nova piscina.

Apesar de o incidente ser, em si mesmo, relativamente insignificante, as medidas disciplinares aplicadas contra os estudantes, assim como as repetidas intervenções policiais, intensificaram o conflito e fizeram de Nanterre o ponto de partida de um movimento que se alastrou rapidamente pelas universidades e escolas secundaristas de todo o país. No centro de seu movimento estão as reivindicações por melhores condições de aprendizado, livre acesso à universidade, mais liberdades políticas e pessoais, a libertação dos estudantes detidos, assim como a oposição à guerra americana contra o Vietnã, na qual, no fim de janeiro, inicia-se a Ofensiva Tet.

Em algumas cidades, como Caen e Bordeaux, trabalhadores, estudantes universitários e secundaristas tomam as ruas conjuntamente. Em 12 de abril ocorre uma marcha em Paris em solidariedade ao estudante alemão Rudi Dutschke, que levou um tiro de um fascista enraivecido em uma rua de Berlim.

Em 22 de março, 142 estudantes ocupam o prédio da administração da Universidade de Nanterre. A administração reage fechando completamente a universidade por um mês inteiro. O conflito chega então à Sorbonne, a mais velha universidade da França, localizada no Quarteirão Latino (Quartier Latin) de Paris. Em 3 de maio, representantes de diversas organizações estudantis se reúnem para discutir como a campanha deve prosseguir. Enquanto isso, grupos de extrema direita estão protestando do lado de fora. O reitor da universidade chama a polícia, que procede desocupando o campus. Uma imensa e espontânea manifestação irrompe. A polícia reage brutalmente e os estudantes reagem erguendo barricadas. Até o final da noite, cerca de cem estudantes são feridos e mais outras centenas são presos. Um dia após as prisões, 13 estudantes recebem sentenças cruéis baseadas exclusivamente em depoimentos de policiais.

O governo e a mídia se esforçam por retratar as batalhas urbanas no Quarteirão Latino como obra de arruaceiros e grupos radicais. O Partido Comunista também se junta ao coro contrário aos estudantes. Sua segunda figura mais importante, Georges Marchais, que mais tarde se tornaria o secretário geral do partido, dispara um ataque violento contra os estudantes “pseudo-revolucionários” na primeira página do jornal do partido L’Humanité. Ele os acusa de legitimar os “provocadores fascistas”. Marchais está acima de tudo revoltado pelo fato de os estudantes “distribuírem panfletos e outros materiais de propaganda em números cada vez maiores nas portas das fábricas e nos bairros de trabalhadores imigrantes.” E ameaça: “Esses falsos revolucionários têm que ser denunciados, porque estão objetivamente servindo os interesses do regime gaullista e dos grandes monopólios capitalistas.”

Mas suas iscas não foram mordidas. O país está chocado com as ações violentas da polícia que são transmitidas pelas estações de rádio. Os eventos agora recebem um impulso próprio. Os atos em Paris ficam maiores a cada dia e se espalham a outras cidades. Eles são direcionados contra a repressão policial e exigem a soltura daqueles estudantes presos. Estudantes secundaristas também tomam parte na greve. No dia 8 de maio ocorre uma primeira greve geral de um dia no oeste da França.

A partir da noite de 10-11 de maio o Quarteirão Latino está envolto pela “Noite das Barricadas.” Dezenas de milhares de pessoas se fecham em barricada no bairro da universidade, que é então invadido pela polícia usando gás lacrimogêneo às duas da manhã. Centenas de pessoas são feridas.

No dia seguinte, o Primeiro Ministro Georges Pompidou, que acaba de voltar de uma visita diplomática ao Irã, anuncia a reabertura da Sorbonne e a libertação dos estudantes em custódia. Porém, suas ações não conseguem mais controlar a situação. Os sindicatos, incluindo a CGT dominada pelo Partido Comunista, conclamam uma greve geral para o dia 13 de maio contra a repressão policial. Os sindicatos temem perder controle sobre os trabalhadores engajados caso não atuem dessa forma.

O chamado de greve é recebido com uma enorme repercussão. Muitas cidades testemunham os maiores protestos de massas desde a Segunda Guerra. Somente em Paris 800.000 pessoas vão às ruas. Reivindicações políticas vêm à tona. Muitos reivindicam a derrubada do governo. Durante a noite, a Sorbonne e outras universidades são reocupadas pelos estudantes.

O plano dos sindicatos de limitar a greve geral a um só dia não consegue se materializar. No dia seguinte, 14 de maio, os trabalhadores ocupam a fábrica Sud-Aviation, em Nantes. A fábrica permanece sob controle dos operários por um mês, com bandeiras vermelhas tremulando sobre o prédio da administração. O diretor regional, Duvochel, é mantido refém pelos ocupantes por 16 dias. O gerente geral da Sud-Aviation nesta época é Maurice Papon, um colaborador nazista, criminoso de guerra e chefe da polícia parisiense em 1961, quando foi responsável pelo assassinato de pessoas que protestavam contra a guerra da Argélia.

Operários de outras fábricas seguem o exemplo da Sud-Aviation, e uma onda de ocupações avança sobre o país de 15 a 20 de maio. Em todos os lugares bandeiras vermelhas são erguidas e em muitas fábricas a gerência é mantida em cativeiro. As ações afetam centenas de fábricas e escritórios incluindo a maior fábrica do país, a fábrica principal da Renault, em Billancourt, que havia desempenhado um papel fundamental na onda de greves de 1947.

Inicialmente, os trabalhadores levantam reivindicações imediatas, que se diferenciam de lugar a lugar: remuneração mais justa, diminuição das horas de trabalho, nenhuma demissão, mais direitos aos trabalhadores da fábrica. Comitês de ação e de trabalhadores surgem nas fábricas ocupadas e arredores atraindo residentes locais, estudantes universitários e secundaristas junto aos operários e trabalhadores da administração em greve. Os comitês tomam responsabilidade pela organização de greves e desenvolvem-se em fóruns de intenso debate político. O mesmo é válido para as universidades, que estão em grande parte ocupada por estudantes.

Em 20 de maio o país inteiro está paralisado, atingido por uma greve geral – mesmo não tendo os sindicatos e nenhuma outra organização lançado um chamado a esta greve. Fábricas, escritórios, escolas e universidades estão ocupados, a produção e o sistema de transportes paralisados. Artistas, jornalistas e até mesmo jogadores de futebol juntam-se ao movimento. Dez milhões de pessoas, das 15 milhões da força de trabalho francesa, estão envolvidas na ação. Estudos posteriores revisaram este número para 7-9 milhões, mas, ainda assim, esta continua sendo a maior greve geral da história da França. “Somente” três milhões de trabalhadores haviam tomado parte na greve geral em 1936, enquanto 2,5 milhões de trabalhadores participaram da greve geral de 1947.

A onda de greves atinge seu pico entre 22 e 30 de maio, mas chega a durar até julho. Mais de 4 milhões de trabalhadores permanecem em greve por mais de três semanas e 2 milhões por mais de quatro semanas. De acordo com o Ministério do Trabalho francês, um total de 150 milhões de dias de trabalho são perdidos em 1968 devido a greves. Em comparação com a greve de mineiros na Grã-Bretanha em 1974, que levou o governo conservador de Edward Heath abaixo, resultou em um total de 14 milhões de dias de trabalho perdidos.

Em 20 de maio o governo perde o controle sobre o país. A reivindicação pela renúncia de Gaulle e seu governo (“dez anos é demais”) já está disseminada. Em 24 de maio, de Gaulle tenta retomar o controle da situação através de um discurso televisionado à nação. Ele promete um plebiscito dando aos estudantes e trabalhadores mais direitos em empresas e universidades. Mas sua aparência só demonstra impotência. Seu discurso não causa nenhum impacto.

Nas três primeiras semanas de maio, uma situação revolucionária que possui poucos precedentes na história se desenvolveu na França. Com uma direção determinada, o movimento poderia ter selado o destino político do governo de Gaulle e da Quinta República. As forças de segurança ainda pairavam sobre o regime, mas elas raramente resistiriam a uma ofensiva política sistemática. O próprio tamanho do movimento teria causado um impacto corrosivo em suas fileiras.