Transição Socialista

Sobre o “polo socialista” convocado pelo PSTU

O PSTU lançou há cerca de quinze dias um manifesto pela construção de um “polo socialista”. O manifesto faz uma apresentação das posições programáticas e conjunturais do PSTU e ao final registra o seguinte:

“A alternativa que precisamos construir não pode ser simplesmente para as eleições. Não pode ter a perspectiva da conciliação de classes, do salvador da pátria, da manutenção e da defesa da ordem vigente. Nós estamos propondo outro caminho: construir um Polo por uma Alternativa Socialista e Revolucionária para o nosso país.”

A TS em linhas gerais acha isso correto e necessário. Defendemos tal proposta mais ou menos desde 2016. Em 2018, defendemos que o PSTU deveria pressionar a ala à esquerda do PSOL para que rompesse com esse partido (sequestrado definitivamente pelo lulismo) e criasse conjuntamente um polo revolucionário. O PSTU poderia oferecer desde já à ala à esquerda do PSOL a garantia da legenda democrática. Assim essas correntes poderiam sair do PSOL e se candidatar pelo PSTU, sem ter de se submeter ao centralismo deste (apenas, evidentemente, aos acordos políticos-eleitorais comuns). 

No entanto, mais do que um acordo de atuação pontual na eleição, o manifesto do PSTU argumenta a favor de uma discussão do próprio texto do manifesto e de um programa socialista:

“Convidamos a todas e todos que concordam com a proposta que apresentamos aqui a assinarem conosco este manifesto e a juntarem-se a nós na construção dessa alternativa política para o nosso país – processo no qual debateremos, de forma coletiva, o próprio manifesto e um programa socialista para o Brasil.”

Nada temos contra, evidentemente, a discussão do manifesto e de um programa socialista. Entretanto, quem assistiu à “plenária” do dia 07/10 verificou que isso não se realizou. Nas suas três horas e meia de “plenária”, não houve discussão propriamente relevante nem se deliberou ou encaminhou nada. Não era de fato uma plenária – um fórum com o propósito de deliberar algo –, mas uma atividade para demonstrar força política do PSTU. Talvez para impressionar lideranças externas.

Não que não houvesse potencial. Havia. Vários companheiros com longa trajetória de luta e possíveis ricas contribuições ao debate estiveram ali presentes. No entanto, os que puderam falar receberam apenas três minutos de fala, para jorrar palavras sob a ditadura do cronômetro. Para piorar, o PSTU optou por inscrever quase duas dezenas de militantes próprios, disfarçados com a capa das suas diversas “colaterais”, e o debate virou um grande e monótono monólogo, entremeado por apresentações culturais. Após as diversas afirmações sobre o caráter “histórico” da atividade, tocou-se a Internacional. É o que Trótski chamava de socialismo em dias de festa.

Sem querermos parecer pretensiosos demais, achamos que o PSTU poderia aprender com a proposta de Comitê de Enlace, que a TS começa a erguer com outras organizações, grupos e valorosos companheiros.

Se se quer realmente “debater, de forma coletiva, o próprio manifesto e um programa socialista para o Brasil” é preciso viabilizar, antes de tudo, uma forma honesta e fraterna de discussão e deliberação. Não há um único exemplo histórico de discussão de programa por meio de falas de três minutos. Programa se discute com textos fundamentados e bem argumentados. A reunião deveria ter decidido quem pode escrever, quais os temas a serem debatidos, qual o limite para cada texto, por quais canais e meios se dará o debate.

Além disso, para o estabelecimento de uma discussão fraterna – seja minimamente para mudanças no manifesto, seja para tratar de programa – é imprescindível o estabelecimento de um ambiente realmente democrático. Cada partido, organização ou grupo político deve ter nela poucos representantes (ainda que a atividade possa ser aberta ao público observador, é claro). Assim, pode-se caminhar racionalmente para acordos em torno de como modificar o manifesto ou estabelecer os canais de debate de programa. Caso não haja acordo, que se vote. Nesse caso, deve valer o princípio da paridade: cada partido, organização ou grupo políticos – excluindo-se as falsas representações, das “colaterais” – deve ter um voto (peso igual). Do contrário, nenhuma organização, corrente ou grupo quererá participar, pois sempre será minoritária em deliberações frente ao PSTU.

Ao final do processo de debate – que pode ser curto ou longo, a depender dos objetivos reais da proposta – todos poderão decidir voluntariamente o que fazer com o acúmulo da discussão.

Se o PSTU avançar sua proposta para algo mais ou menos assim, comprovará que está interessado em criar um polo “não simplesmente para as eleições”. E contribuirá realmente para a necessária articulação de revolucionários deste país. Se não, estará apenas fazendo mais uma atividade de visibilidade pautada pelas eleições, para segurar suas bases e aproximar lideranças externas. Pode dar certo, no quesito construção imediata, mas é uma metodologia equivocada, que coloca os interesses eleitorais – do PSTU ou dos que se aproximarem dele – à frente da necessidade de construção de uma alternativa sólida.

Caso a proposta do PSTU seja por um ambiente realmente fraterno e de discussão qualificada, a TS está mais do que disposta a participar.