Transição Socialista

Nosso ato de ficar parado lá dentro incomodou eles

Este mês a Bardella completa um ano de dívida com os trabalhadores, pagando quando e quanto quer, dando calote nos demitidos e agora ameaça cortar mais 80 postos de trabalho na planta de Guarulhos. A direção do sindicato deu como causa perdida e deixou a peãozada na mão: o peão ficou sem representante, e o enfrentamento direto entre trabalhador e patrão se intensificou. Na primeira semana de abril, a falta de mais um pagamento motivou os trabalhadores a cruzarem os braços e, até o fechamento desta edição, ainda não tinham voltado ao trabalho.

Nós decidimos no coletivo. Falaram que iam pagar, nós paramos. Aí desceu o gerente. Ele falou “Já que vocês tão parados aqui na fábrica e não querem trabalhar, vou colocar o ônibus pra rodar à uma hora e vocês vão embora”. Nós falamos “Negativo! Quer descontar de nós? Não, nós não vai embora.”. O nosso ato de ficar parado lá dentro incomodou eles, porque quando a gente fazia greve ficava em casa. Agora eles viram a realidade, pensaram: “Os caras tão aqui esfregando na nossa cara que não tão trabalhando, então vou pôr o ônibus pra eles irem embora”. E nós não quisemos. Falamos “Não! Nós vamos embora às cinco, hora normal do expediente.” (depoimento de um operário que prefere não se identificar)

Diferente das greves em que o sindicato orientava ficar em casa, esta greve demonstrou o poder do chão de fábrica. Permanecendo lá dentro, o peão garantiu que nenhuma máquina fosse ligada! Assim o patrão não consegue dar jeitinho, deslocar fura-greve pra fazer serviço de um, botar chefe pra fazer serviço de outro.

O movimento parece ter assustado o patrão que, dois dias depois, preferiu os trabalhadores em casa. Orientou os motoristas a não buscarem o pessoal – uma espécie de locaute (greve patronal). Na semana seguinte, os ônibus voltaram, mas em menor número. Com a manobra de impedir que trabalhadores cheguem à fábrica, fica impedida também a reunião espontânea dos operários. Tem dia que o peão vai, dia que não, e assim o patrão vai retomando o controle. Para a greve seguir forte, os trabalhadores precisam encontrar os meios de se reunir apesar da vontade do patrão.

Tem serviço, sai peça. O que não aparece é o dinheiro!

A empresa vem praticando, há pelo menos quatro meses, um corte de 60% dos salários. Paga apenas o que corresponde ao adiantamento de 40%, o ‘vale’. O patrão alega falta de dinheiro, mas compra material de fornecedores e o trabalho não pára. Além disso, os funcionários de Sorocaba passaram a receber regularmente.

A gente produz e produz aqui dentro, manda e manda peça embora. Cadê o dinheiro daqui? Nós aceitamos redução de jornada de trabalho, aceitamos um monte de coisa, e quem se ferra sempre somos nós?

A própria planta de Guarulhos está fazendo novas contratações, mas com salário rebaixado à metade. Um soldador, que antes recebia R$ 5 mil, agora está sendo contratado por R$ 2,5 mil. Enquanto preenche vagas mais baratas, a empresa tenta eliminar as “mais caras”, demitindo a peãozada na base do calote – sem a multa rescisória e com a dívida dos atrasados parcelada, a perder de vista.

Quem dirige a reestruturação, quem controla a produção

O último balanço financeiro da Bardella confirma a continuidade das atividades da empresa. Também revela um corte total de 302 trabalhadores em suas plantas no ano de 2017, ao mesmo tempo que mantêm a quantia milionária paga aos seus conselheiros e diretores. Ou seja, o rebaixamento salarial e as demissões para o chão de fábrica são uma política de reestruturação que opta por cortar só da carne dos peões.

A única força capaz de mudar essa política é a força de trabalho. Se o dinheiro que entra não vai para os salários, os trabalhadores também não podem deixar sair peça! Não tirar os olhos das máquinas, não abandonar a produção, mas controlá-la de acordo com o interesse coletivo dos trabalhadores!