O resto do mundo já dá sinais de nova tempestade econômica. Isso porque aqui, no Brasil, nós mal saímos de um ciclo de demissões, rebaixamento de salários, calotes e quebradeira nas fábricas. A marolinha de Lula era uma onda gigante. A barragem rompeu em 2014 e continua afogando o peão!
A acumulação de capital está atingindo um novo limite e uma nova crise mundial está para explodir. Os sinais já aparecem abertamente nos jornais: nos EUA, a produção industrial começou a embicar para baixo como uma águia gorda que comeu demais; na Alemanha já se vê parciais do PIB negativas, desta que é a maior economia da União Europeia. A própria UE esfarela com a saída da Inglaterra. Na China, a produção industrial desacelerou como não se via desde 2002.
Na Argentina, mesmo depois do governo Macri aplicar “reformas” até na sola dos próprios sapatos, estão declarando moratória e, na falta de uma esquerda de verdade, ressurge das cinzas a pelegada kirchnerista pra dar esperanças aos mortos-vivos do PT. Os hermanos só não estão pior do que a Venezuela que praticamente parou de respirar sufocada pela ditadura de Maduro.
Trem fantasma
No Brasil, Sarney-Collor-Itamar-FHC- -Lula-Dilma-Temer-Bolsonaro são os maquinistas do trem fantasma da crise da democracia burguesa! Esse trem sem freio sobe e desce de um governo ao outro. Cada subida prepara uma queda ainda maior logo em seguida. “É culpa do governo anterior!” diz o eleito da vez. As crises não são dos governos. A crise do capital é o próprio capital! A única constante é o apetite dos patrões que contornam sua crise de rendimentos repassando-a sempre para os trabalhadores. Só isso explica os mais de 12 milhões de desempregados, os salários rebaixados, a crescente precarização da carteira assinada e o aumento do subemprego. Entre 2014 e 2018, o PIB brasileiro acumulou queda de 4,2%, enquanto o PIB da indústria de transformação em todo o país caiu 14,4%.
Ataques de sempre
Isso se reflete também nas leis que os patrões impõem, por meio do Estado. A lista de ataques não para: reforma trabalhista, fim da ultratividade das convenções coletivas, trabalho intermitente, reforma da previdência, lei das Terceirizações, PEC do teto de gastos, MP da Liberdade Econômica, extinção de normas de segurança do trabalho, e um longo etc! Tudo isso é aprovado sem dificuldade num país onde os principais partidos e sindicatos só pensam em Lula livre e imposto sindical! Assim, estamos ferrados e sem defesa!
Mentiras de ontem e hoje
Em outubro de 2008, Lula, então presidente, zombava da crise econômica mundial que estourava nos EUA, dizia: “Lá (nos EUA), ela é um tsunami; aqui, se ela chegar, vai chegar uma marolinha que não dá nem para esquiar”. Tardou, mas as primeiras ondas quebraram no Brasil em 2013, as greves bateram recorde histórico e milhões de trabalhadores, estudantes e pequenos proprietários foram às ruas contra a exploração e a roubalheira. A crise começava a estourar o bolso da maioria.
Hoje ouvimos Paulo Guedes, braço direito de Bolsonaro, repetir à exaustão que “sem a reforma da previdência o Brasil não vai voltar a crescer”. O mesmo dizia Temer da reforma trabalhista. Mentira atrás de mentira! Lula ria, pois surfava no ciclo econômico favorável aos países dos BRICS, e alimentou a ilusão de que era possível conciliar os nossos interesses com os dos patrões. Mas a marolinha virou tsunami e a revolta queimou até mesmo políticos graúdos: Lula e cia esquiaram direto para a prisão!
Falta partido, emprego e salário
Diante de tantos ataques econômicos e políticos, o que fazer? Não tem atalho: ao peão é preciso confiar apenas nas próprias forças e lutar! A classe trabalhadora, com os operários à frente, deve criar um partido que seja seu instrumento de defesa para garantir suas condições de sobrevivência! Chega de partidos eleitoreiros e que querem apenas administrar o Estado. O que precisamos é de um partido de luta!
Este partido ainda não existe no Brasil. Existem lutadores honestos e pequenas organizações esparsas pelo país que poderiam seguir caminho oposto à trilha perdida do PT! Mas muitos seguem distantes dos locais de trabalho onde a luta entre trabalhadores e patrões acontece. Nós da organização Transição Socialista lutamos para a construção deste partido revolucionário que deve ter um programa que unifique a classe trabalhadora, ou seja, que defenda nossos empregos e salários!
Como se defender?
Os patrões nos atacam com medidas móveis que agem apenas em seu favor: facão, demissões a conta-gotas, banco de horas, PLR, salários despadronizados, hora extra, contrato temporário, manipulação de estoques, etc. Os trabalhadores devem também se armar da mobilidade a seu favor, por isso, reivindicamos, de forma combinada, as escalas móveis:
Escala móvel de salários
Os salários devem ser reajustados mensalmente de acordo com a inflação dos produtos básicos. Dessa maneira conservamos nosso nível de vida atual. Sequer pedimos mais, apenas queremos garantir que a variação dos preços ou crises econômicas não piorem nossa condição.
Escala móvel das horas de trabalho
O aumento da produtividade deveria ser um avanço social, mas em vez disso só nos esfola e impõe demissões! Assim, o aumento da produtividade se transforma num retrocesso social. Por isso devemos lutar para que as horas totais necessárias à produção de uma empresa sejam divididas periodicamente entre todos os trabalhadores. Se a demanda diminui, ninguém deve ser demitido, apenas se reduzem as horas a serem divididas.
Se a demanda aumenta ocorre o mesmo, com um teto assegurado, claro. Com isso acaba o medo de que robôs ou oscilações de demanda tirem nossos empregos.
Estas medidas são para garantir a nossa sobrevivência!Já passou da hora de os sindicatos erguerem esse programa de defesa. Um partido operário de verdade – que atue também nos principais sindicatos – deve agir para que isso se concretize, porque numa sociedade que vive da exploração do trabalho, o único direito realmente sério é o direito ao emprego e ao salário!
Não podemos adiar esse direito para a eleição seguinte, para depois desta ou daquela reforma, ou para um amanhã que nunca chega! O tempo nos devora, companheiros! É preciso ir à luta!